Durante as aulas da Pós em Neuropsicopedagogia, esse assunto vem sempre à tona: O quanto as telas podem ser prejudiciais para as crianças, ou o quanto a ausência das mesmas faz com que os pequenos sejam criados dentro de uma bolha que também pode ser prejudicial no futuro.
Nosso cérebro é constituído por vários lobos, cada lobo responsável por algumas funções específicas do nosso corpo. É como um motor muito elaborado e complexo que deve estar sempre funcionando muito bem. Porém, seu mau uso pode danificar partes desse motor e comprometer o funcionamento de partes importantes de nosso corpo.
Atualmente, diante da grande utilização da nossa visão, há um aumento considerável na quantidade de diagnósticos de crianças com miopia. Além disso, acredita-se que o Lobo Occipital, que é a parte do nosso cérebro responsável pelo processamento das informações registradas por nossos olhos, poderá aumentar de tamanho, em longo prazo, é claro, assim como existe a tendência de que nossos dedos sejam no futuro maiores, mais compridos, pois nunca na história da humanidade nossos dedos foram usados com tanta frequência e intensidade.
Sabemos também, que o mundo digital é um mundo para o qual não teremos volta. Imagine o que aconteceria se hoje, as novas tecnologias desaparecessem! Qual jovem de dezoito, vinte anos conseguiria chegar a lugares remotos usando um guia cheio de mapas, ou o guia de SP, que mais parecia uma bíblia de tão grosso e complexo? Trago esse exemplo para dizer que as tecnologias não são vilãs, o seu uso é um caminho sem volta, pois facilitou muito a vida dos humanos, trazendo soluções para grande parte de nossas dificuldades. Dessa forma, excluir completamente uma criança dessa maravilha, não me parece nem um pouco racional ou inteligente.
Mas então como fazer? Como conseguir um equilíbrio entre o mundo digital e o mundo analógico? Como fazer as crianças de hoje em dia se interessarem por coisas que competem em desvantagem com as telas tão interativas e coloridas?
O que devemos ter em mente é que, a própria Sociedade Brasileira de Pediatria demonstra muita preocupação não apenas com o tempo que as crianças ficam expostas às telas em si, mas com o quanto é cada vez mais crescente e a quantidade de crianças, cada vez menores sendo expostas a estes meios tecnológicos.
A situação se torna ainda mais preocupante se lermos com atenção aos dados listados no Manual de Orientação ‘Menos Telas, Mais Saúde’ (disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_22246c-ManOrient_-__MenosTelas__MaisSaude.pdf ) onde os principais problemas que podemos encontrar nesta Era Digital em crianças, são: – Dependência Digital e Uso Problemático das Mídias Interativas – Problemas de saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão – Transtornos do déficit de atenção e hiperatividade – Transtornos do sono – Transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia – Sedentarismo e falta da prática de exercícios – Bullying & cyberbullying – Transtornos da imagem corporal e da auto-estima – Riscos da sexualidade, nudez, sexting, sextorsão, abuso sexual, estupro virtual- Comportamentos auto-lesivos, indução e riscos de suicídio – Aumento da violência, abusos e fatalidades – Problemas visuais, miopia e síndrome visual do computador – Problemas auditivos e PAIR, perda auditiva induzida pelo ruído – Transtornos posturais e músculo-esqueléticos – Uso de nicotina, vaping, bebidas alcoólicas, maconha, anabolizantes e outras drogas.
Não menos preocupante ainda existe no Manual, uma tabela que mostra algumas possíveis consequências do uso excessivo das telas dentro do contexto familiar, sendo elas: falta de afeto e abandono, Falta de limites, negação dos comportamentos inadequados dos filhos, violência familiar, família disfuncional, episódios frequentes de estresse tóxico, uso de álcool e de drogas e a falta de suporte e apoio. Queixas que particularmente escutamos diariamente em clinicas e escolas.
As recomendações dos médicos é evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, sem necessidade (nem passivamente!). Para crianças com idades entre 2 e 5 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de 1 hora/dia, sempre com supervisão de pais/cuidadores/ responsáveis. Crianças com idades entre 6 e 10 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de 1-2 horas/dia, sempre com supervisão de pais/responsáveis. E para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos, limitar o tempo de telas e jogos de videogames a 2-3 horas/dia, e nunca deixar “virar a noite” jogando.
No manual da Sociedade Brasileira de Pediatria você irá encontrar ainda muitas outras recomendações. Desta forma proponho a leitura do mesmo e que algumas famílias pensem em um momento de reestruturação do tempo ‘livre’ das crianças dentro de casa, para que o ano seja novo em todos os sentidos e para que as crianças encontrem prazer em outras atividades, como brincar com jogos, de faz de conta, fazer uma culinária com os pais ou até mesmo sozinho dependendo da idade, explorar a natureza tão abundante em nosso país, se apropriar dos espaços públicos perto de sua casa, conhecer as bibliotecas públicas, entre tantas outras coisas, descobrindo um mundo imenso, que vai além de algoritmos e robôs tecnológicos.
E respondendo as perguntas que cito no meio do texto, sobre como competir com essas telinhas que já conquistaram perdidamente os nossos filhos, eu digo… nada… NADA substitui e nunca substituirá a interação humana, o convívio, o estar junto, o brincar junto, o fazer junto, o construir junto. Estou certa de que você sabe o que fazer!
Deixe nos comentários como a sua família lida com essa questão tão delicada e particular na sua casa.
Com amor, Gabi.